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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Inexistência"

Nada sente
Nada ouve
Nada vê

Nada come
Nada bebe
Nada fuma

Dor não sente
Frio, talvez
Medo, sempre

Nada ama
Nada odeia
Nada importa

Nada pensa
Nada fala
Nada sonha

Não matou
Não morreu
Não viveu

Nada toca
Nada o toca
Nada, nada

Nada foi
Nada é
Nada será

Não existe
Não insiste
Não persiste

Thyago Ribeiro

terça-feira, 23 de outubro de 2012


       Atirei-me do abismo na busca pela felicidade. O vento beijava meu rosto anunciando a hora do adeus. Já fora dado o último passo em direção a uma nova vida, uma nova história regada de paz e tranquilidade. Tive tempo apenas para gritar. GRITEI. Gritei até que se formasse um nó em minha garganta. Foi quando GRITEI mais alto, e mais alto, e mais alto, e mais alto... Tão alto quanto pude aguentar. Senti-me feliz. Encontrei em mim o que tanto busquei. Cheguei ao chão. Aterrissei com a violência de uma pedra atraída pela gravidade. Estava leve como uma pena. Não pude mais sentir meu corpo. Estava imóvel. O céu tornara-se cinza. As aves buscavam abrigo. Senti, então, as gotículas de chuva acariciarem meu rosto. Eram gotas que caíam como lágrimas vertidas por amor. A chuva tornou-se densa, inundou tudo ao meu redor. Outra vez senti-me feliz. Senti um sorriso brotar em mim. Estava feliz. Tão feliz quanto jamais pudera estar. 

Thyago Ribeiro

"Psicologia do medo"


Os estilhaços do teu sangue, agora,
Correm em mim, corrompendo minh’alma
Fria, em busca de um caminho para fora
Deste corpo ardente em um novo trauma.

E como navalha que dilacera
Meu ser, sinto, pois, o teu desespero
- Psicólogo para esta quimera;
Analista, vilão, bom companheiro...

Arranca de mim teu sangue maldito
E faz-me desejar tua bondade;
Faz-me gritar com fôlego infinito,
Faz-me chorar em busca de piedade.

Thyago Ribeiro

sábado, 21 de julho de 2012

"Memórias de um pobre coitado"

Uma esmola, meu senhor,
Eu preciso de um cigarro.
Um trocado, por favor,
Pra pagar o meu pecado.

Uma esmola, meu senhor,
Pois não posso ir pra casa.
Sinto frio, sinto pavor
Quando durmo nesta praça.

Um trocado, meu senhor,
Dê-me um pouco de alegria.
Ponha fim neste terror,
Dê-me uma carta de alforria.

Uma esmola, meu senhor,
Mate a fome deste rapaz.
Um trocado, por favor,
Dê-me logo e siga em paz.

Um cigarro, meu senhor,
Só um trago me alivia.
Uma cachaça, por favor,
Só uma dose de agonia.

Uma esmola, meu senhor,
Pois preciso de uma cachaça.
Um trocado, por favor,
Ou eu faço uma desgraça!

A cachaça, meu senhor,
É o que esquenta a noite fria.
E o cigarro mata a dor
De estar vivo mais um dia.

Uma esmola, meu senhor,
Mate a fome deste rapaz.
Um trocado, por favor,
Dê-me logo e siga em paz!

Thyago Ribeiro


sábado, 9 de junho de 2012

“Ascenção”

Aprendi que o amor
- Pai dos sentimentos -
É escravo do medo.

Aprendi que amar
É torturar-se diariamente
Por vontade própria.

Aprendi que o medo 
É aliado ao prazer
E cúmplice da dor.

Aprendi que a dor
É filha da destruição
E mãe da adversidade.

Aprendi que a angústia
- Fruto da dor - 
Alimenta a maldade.

Aprendi que ser mau
É servir-se da desgraça e...
Não... Guardemos a crueldade.

Thyago Ribeiro

quinta-feira, 3 de maio de 2012

“Esquizofrenia”


Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.

Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.

Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.

Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Esmurrei o meu espelho porque nele vi você.
Eis o sangue!

Thyago Ribeiro

domingo, 15 de abril de 2012

“Analogias de um bêbado”

Como o álcool que corre em minhas artérias
Arde o sangue que hoje bebo para a morte.
Durmo, então, escondido numa cratera,
Ao relento, sem abrigo... – Não se importe.

Cada copo soerguido por esporte
Guarda em si minhas lembranças hoje velhas.
Guarda mágoas e cartas e recortes...
São pedaços e retalhos da matéria.

Venha, tome um copo, sente-se à mesa.
Sirva-se, amigo, dispense a gentileza.

Beba a dor, beba o mal, beba de tudo.
Beba a vida, beba-a de mim, beba o mundo.

Thyago Ribeiro

sexta-feira, 23 de março de 2012

"Sete passos para amar"

O princípio é quase sempre igual:
Despertam-se sonhos,
Evocam-se medos...
Sufocam-se angústias e sentimentos.

Olhares eternizam palavras e pensamentos,
Flagelam o tempo,
Transformam o real,
Constroem pontes e ligações...

Exploram-se ritmos e arritmias
Entre lágrimas e sorrisos...
Já não são pulsos,
Pois correm com força... são cascatas!

E a vida constrói-se em meio à contradição:
Esgota-se depressa,
Mas passa devagar -
E tudo o que importava não foi visto... 

Thyago Ribeiro 

quarta-feira, 14 de março de 2012

"Raridade"

Se queres amor, então vá busca-lo!
Lembre-se: Teu príncipe não vem a cavalo.
Teu grande ideal virou pesadelo;
- Adeus sonho mau, foi bom conhece-lo.

Thyago Ribeiro