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quinta-feira, 31 de março de 2011

“Garota de programa”

Vem cá
Acende minha chama
Vem cá
Garota de programa

Vem cá
Deita na minha cama
Vem cá
Garota de programa

Vem cá
Diz que não me ama
Vem cá
Garota de programa

Vem cá
Afogue-se na minha lama
Vem cá
Garota de programa

Vem cá
Venha logo, não faça drama
Vem cá
Garota de programa


Thyago Ribeiro

quarta-feira, 30 de março de 2011

   A chuva o impedia de sair de casa; Seu olhar fixava-se na lareira ardendo em brasa; os chiados do velho disco de vinil eram a única quebra daquele silêncio; Seu interior estava vazio; O palpitar de seu coração era seco, sistemático; ele abandonara sua condição humana para viver como uma máquina; Frio, insensível, estático; Sua mão movimentava-se involuntariamente rabiscando versos inconscientes e desordenados no papel ainda brando; Seu cérebro estava centrado na dança daquelas chamas que pareciam em perfeita harmonia com cada nota da música; Ele não era mau, ele não era bom, era apenas um garoto escondendo-se na carcaça surrada de um homem; Tinha medo, sentia o medo, era o medo; Mal sabia que seus versos eram apenas a concretização de sua armadura invisível, seu porto seguro; Seus sonhos o vendavam, o tornavam incapaz de enxergar a crua realidade; Sua mentira era verdade e sua verdade era inválida; Pobre garoto, era incapaz de imaginar que cada um de seus medos fazia parte da realidade, que tudo o que nos sonhos o assustava... o esperava de verdade!


Thyago Ribeiro

“À espera”


Eu vi o tempo passar
Vi seu jardim florescer
Plantei rosas noutro lugar
Mas as flores não vão crescer

Eu vi a tristeza chegar
Findar a noite ao amanhecer
Senti a vontade de chorar
Mas não chorarei por você

Eu vi o dia se aproximar
Vi o milagre não acontecer
Me perdi, fugi do lar
Vi em mim você morrer

Thyago Ribeiro

sexta-feira, 25 de março de 2011

“Bailarina II”

A música parou de tocar
Seu encanto foi perdido
Não me vi no seu olhar
Segurei o meu gemido

Foi bom te ver dançar,
Ouvir a música ao meu ouvido
Foi bom poder te amar,
Ser teu amor, ser teu querido

Eu vi a dança terminar,
Ouvi a música parar,
Eu vi a luz se apagar,
Senti a noite chegar,
Fiquei só, não fui seu par

Não fui seu par
Não fui traído
Não vou te amar
Não faz sentido


Thyago Ribeiro

quarta-feira, 23 de março de 2011

“Treze é demais”


Esse foi o primeiro
Agora vem o segundo
E lá se vai o terceiro
O quarto veio do fundo

Agora surge o quinto
No sexto não sei o que sinto
O sétimo foi bem vagabundo
O oitavo mais um moribundo

O nono veio logo depois
O décimo termina com dois
Onze é o número desse
Doze, só doze, sem treze;


Thyago Ribeiro

“Amor e morte”

   [...]Desde então tenho lutado para não me tornar aquilo que tanto temi; Vi fantasmas, provei sangue, senti o sangue, derramei o sangue; Um assassino incomum, vagando pelas estreitas vielas do que, um dia, fora chamado de vida; Sedento por sangue, tomado por espíritos, possuído, perturbado, maldoso, perverso, cruel[...]; Segui teus rastros, teu cheiro, teus passos; Segui segurando as lágrimas, não havia tempo a perder enxugando-as; Corri, fugi dos meus medos e trouxe comigo os seus; Minha trilha foi marcada por terror, sangue, suor, poeira, medo, medo, medo,[...]; Nas sombras minha face ficou oculta; Meu vulto foi tudo o que pude te mostrar; O controverso sabor insípido das lágrimas chegou a minha boca; As últimas palavras que deixei chegar a seus ouvidos  saiam dolorosamente de minhas cordas vocais; “Eu te amo”; E no escuro surgiu um clarão, no silêncio ouviu-se um trovão; Um disparo, uma bala, um grito e um mar vermelho derramado a meus pés[...]; [...]E desde então tenho lutado para não me tornar aquilo que tanto temi[...]


Thyago Ribeiro

terça-feira, 22 de março de 2011

“Cadeira de rodas”

E na pior das prisões fui trancafiado...

Não há celas
Não há grades
Não há fechaduras
Não há chaves

Os guardas onde estão?

Não há corte
Não há juiz
Não há júri
Réu infeliz

Na pior das prisões fui trancafiado...

Não há crime
Mas há sentença
Não há culpa
Mas há inocência

Na pior das prisões fui trancafiado...


Thyago Ribeiro

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Causa Mortis"

   O rosto coberto de sangue escondia as marcas de um falso amor; A boca entreaberta tornava pública a tentativa de uma última palavra, um último grito; O coração em pedaços dava sinais de uma morte cruel; O cérebro inchado era incapaz de esconder os distúrbios que por lá se passaram; Inútil, infeliz, infiel; Fraturas expostas, hematomas, sangue, dor, mais sangue, mais dor, mais sangue, mais [...]; A tortura não foi relevante; A fratura não foi importante; Não havia modo pior para morrer; Morreu, foi-se embora, fugiu pra longe de você;


Thyago Ribeiro

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Exorcismo"

  E eis que arranquei-a de minhas entranhas com a violência de um jardineiro a liquidar ervas daninhas em meio ao roseiral; Aguentei, segurei o pranto, menti, fingi ser forte; E do silêncio surgiram as vozes, fantasmas que gritavam meu nome, me chamavam a escuridão; O medo predominou em minha mente, trouxe dúvidas, certezas e soluções, soluções essas que me pareciam a única saída; Sexo, drogas, dor, sangue, morte; O ponto final de tudo aquilo que um dia foi belo e, aparentemente, feliz; Outra vez surge o fantasma, com gritos, gemidos, terror; Dessa vez eu pude vê-lo, e quão grande não seria minha felicidade se não pudesse; Sua face era familiar, era impossível não reconhecê-la, afinal, quem não reconheceria, mesmo que no escuro, a face que tanto amou?; Tarde demais, estava feito; Agora, é tarde demais;


Thyago Ribeiro

terça-feira, 15 de março de 2011