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quarta-feira, 25 de maio de 2011

"Sonha(dor)"

   Embora incomum, é sempre um charme, ou ao menos curioso, começar uma história contando seu clímax final para só então desenvolvê-la. E assim começa, ou melhor, termina minha história, com um lento abrir de olhos e uma dor de cabeça infernal causada pelo esforço para tentar lembrar o que agora são apenas flashes preenchendo espaços vazios em minha mente.
   O início pode parecer comum, um dia qualquer numa sala de aula que exala o odor dos mais caros perfumes e colônias inventados pelo homem. Os amigos reunidos, cumprimentando-se, dando início a mais uma maratona inútil de aulas repletas de conteúdos que jamais serão aplicados fora daquelas quatro paredes. Abraços eram distribuídos incessantemente, disfarçando sentimentos que variam do amor incondicional ao ódio e o repúdio. Sentimentos esses originais de nada mais importante que a estúpida necessidade social humana e que, teoricamente, alojam-se no coração, mas, na verdade, escondem-se nas mais sombrias vielas do subconsciente e surgem como feras selvagens ao atacar na escuridão da noite.
  Um dia desgraçadamente perfeito, capaz de tornar inútil qualquer uma de minhas expressões irônicas de renúncia ou rejeição. A sensação de estar impregnado por toda aquela falsidade presente no ambiente deixava-me nauseado e tornava o ar tão denso que meus pulmões pesavam como chumbo e apertavam meu maldito coração.  Talvez fosse aquele meu último grito de desespero, pedindo socorro antes de ser tragado pelo próprio ego. Por mais triste que fosse a ideia de morrer ali, em meio ao grupo de pessoas que mais amei em vida, a satisfação por impedir que o monstro dentro de mim crescesse ainda mais tornava, para mim, aqueles segundos nos mais felizes de minha vida.
   E nesse momento, a realidade engoliu a fantasia e me mostrou que, apesar de doce, minha trágica (se é que assim podemos chamar) morte não seria mais que uma via alternativa, uma válvula de escape para um covarde com medo de seguir em frente e encarar seus piores medos...




Thyago Ribiero

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